Tem despedida que dói. Outras, nem tanto. Mas dizer adeus sempre mexe com a gente. Aquele “até já” pode não ser eterno, só que esse “em breve” causa sim um reboliço em nós.
Porém, a vida é um vai e vem de idas. Não esqueçamos das vindas. Abrir portas sempre exige coragem, entendimento pessoal e resiliência. Temos que nos enxergar no momento presente, sentir se o melhor a fazer é ficar ou ir.
Quer um exemplo? O meu eu de hoje, não sente tanto aperto deixando para trás as histórias que viveu no apartamento que construiu com trabalho, amor e dores. A mudança pra esse pequeno 1312 veio aos 22 anos. E que escalada memorável foi chegar até aqui.
Na época da mudança, abril de 2021, meu pai estava internado em uma clínica na Zona Sul. Minha casa – de cinco pessoas e uma cachorrinha – ficou vazia. Cada um foi para um canto, tive que buscar aconchego…sozinha.
Mudei pra perto do trabalho, que calha em ficar próximo de onde meu véio estava. Após uma semana, ele partiu também… Me vi vazia novamente.
Quer dizer, vazia não. Repleta de tristeza. Porém, estava desenrolando, consertando uma coisa aqui e outra ali no meu novo cantinho. E conforme fui pendurando quadro a quadro, me reergui.
Claro, tiveram momentos de choro. Aquela angústia de “terei como pagar?”. Tenho que me alimentar direito, acordar cedo, cuidar do apartamento, trabalhar bem e chegar em casa sem desabar, difícil.
Nesse tempo, aprendi o verdadeiro significado de solitude. Quando a auto companhia, o silêncio e a conexão consigo fazem mais sentido que a solidão de estar com tantos e ninguém.
Tive nesse um ano e oito meses morado sozinha, t e m p o. Pra priorizar meu eu, pensar, repensar, às vezes demais. E finalmente começo a entender: sejamos leves conosco, como somos com o outro. Não criemos cenários que só existem na mente.
Portanto, agora é hora de deixar o que vivi nesse apartamento. Despeço-me da dor de ter perdido meu pai, dos amores que existiram, da aventura de criar sozinha… chegou a hora de dar um passo atrás para conquistar o que está destinado.
Fecho a porta do 1312, da Zona Sul, dos porteiros amigos, da vergonha de pegar o elevador de pijama e encontrar alguém todo engravatado. Abro a porta para novos sonhos. E se entendi algo esses dias, compartilho, não é porquê você pode fazer alguma coisa que seu coração desejará.
Como disse Kobe Bryant uma vez “rest at the end, not in the middle”, traduzindo: “descanse no fim, não no meio”. Farei isso até encontrar meu pronto final.
Enquanto escrevia o texto de hoje, escutei a playlist Folk que criei no Spotify. Se você curti esse estilo de música, sabe que a sensação de paz invade. Agora, se você nunca se deu a chance de escutar, dê o play.
Até breve, Ju.