Desculpa. Desculpa se você procurou esse texto com o intuito de ter acalento. Dessa vez, eu não serei a pessoa que te tranquiliza. Não, não é porque faltaram exemplos de ajuda, afinal sempre terão aqueles que salvam o que um dia se chamou de humanidade.
Mas eu nunca presenciei tanta frieza com a vida. “Ser humano”, o início da palavra já indica que o papel desse animal é de existir, preencher, portanto merecedor do termo que o segue: “humano”. Porém, eu e você – talvez em um processo inconsciente e até natural – chegamos ao ponto de muitas vezes não enxergarmos o mundo com exatidão, ficamos no confortável inconsciente. Ro.bo.ti.za.dos a meros espectadores?
A pergunta que tenho me feito nos últimos tempos é curta, simples: “como?”. Como é possível assistir buracos sendo cavados? Rolar o feed do Facebook diariamente e ler que um colega partiu ou até mesmo um parente? Assistir aos jornais televisionando caminhões de frigoríficos com corpos saindo de contêineres e seguir igual a quem assiste uma propaganda de alerta governamental?
Vivemos na agilidade, passamos a perseguir como nunca uma realidade futura, ainda inexistente, utópica! Fazemos careta quando o senhor não anda rápido na fila do metrô se estamos atrasados ou ainda no horário; nos forjamos ao pino enferrujado da panela que de maneira turbulenta tenta lidar com a tamanha onda de informação que recebemos e dificilmente conseguimos acompanhar. Portanto, se não há sequer mais tempo para encaixar a própria rotina, sofrer pelo outro é luxo, uma ilusão a ser superada.
Devemos cair na real, não é? Mas qual seria nesse caso? A de que precisamos mesmo parar um instante durante esse caos, analisar como um astronauta tudo o que ocorre e tirar conclusões ou simplesmente abraçar que o futuro será de sorrisos mascarados? Perguntas e mais perguntas. Também por meio de questionamentos – imagino eu – Platão deve ter chegado a uma de suas mais famosas alegorias, do livro “A República“: O Mito da Caverna.
Escrito em 380 a.C., a história nos ajuda até hoje a interpretar comportamentos sociais. Nela, um dos prisioneiros se dá conta de sua realidade, dos outros acorrentados e passa a buscar o conhecimento até se desprender das antigas amarras, ou seja, de tudo que entendia ser verdade. Nesse momento acontece a mudança do significado da vida, do tempo. Em 2020 não é diferente!
Nos tiraram o tempo da perda. Então eu fico aqui tentando me vestir de astronauta para compreender o que estamos vivendo, logo penso: o sentir é o detalhe mais humano que alguém poderia ter e isso me faz debater se estamos simplesmente deixando de “ser”…
Convido você a assistir o IGTV abaixo sobre o assunto:
Até breve, Ju.